Como um conto sem fim, a história política da Câmara de Juazeiro do
Norte em 2013, terminou exatamente como começou, mergulhada em um tensionamento
interno para a escolha da mesa diretora. Oposição e situação se misturam numa
disputa sem precedentes em meio a um ano que inicia com muita turbulência.
Toda essa história começou em 1º de janeiro de 2013, quando a Câmara
elegeu o candidato da frente que se definia como oposição ao prefeito Raimundo
Macedo (PMDB). O vereador Antônio de Lunga (PSC), mesmo em seu primeiro
mandato, capitaneado pelas boas relações pessoais, conseguiu chegar à
presidência da Casa com o apoio do então Grupo dos 11 (G11).
Oposição no controle e muitas dificuldades para o prefeito Raimundo
Macedo. Na guerra das CPIs prevaleceu as que pretendiam investigar a primeira
gestão de Raimundão (2005-2008), que mais tarde seriam arquivadas. Além disso,
a mesa diretora encaminhava a passos lentos projetos propostos pela
administração. A polêmica começava a tomar ares de prejuízo à sociedade e
matérias como a Reforma Administrativa que, segundo governistas, iriam diminuir
o custo do município com a redução de cargos e salários.
No dia 3 de fevereiro, durante sessão da Câmara, houve a primeira
manifestação dos professores contra a redução dos salários. O episódio se
tornaria a maior sequência de manifestações populares já vista no Cariri. Dias
depois, motivados pela ebulição política em todo o país, cerca de 8 mil pessoas
saíram as ruas para protestar contra as reduções salariais e pelo fim da
corrupção.
O resultado de toda essa revolta culminou na invasão da Câmara no dia 10
de setembro. Foram sete dias de ocupação e a desocupação veio mediante a assinatura
de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), entre manifestantes,
representantes da prefeitura e da Câmara.
Antes, no mês de março, ainda articulado, o G11 marchou contra a base do
prefeito arquivando o projeto do CODEJUNO, fiscalizando a licitação do
município e denunciando o fechamento de 8 escolas na zona rural. O desgaste do
prefeito ganhou patamares altíssimos e a atenção da mídia regional.
Apesar da macha contra a administração, ainda no dia 12 de fevereiro, durante
uma sessão onde faltou a maioria dos vereadores do G11, a dinâmica entre
situação e oposição dava os primeiros sinais de mudança. Quase dois meses depois,
na sessão de 09 de abril, ficou claro o racha do G11 e a base governista
assumia os destinos da Casa Legislativa.
Presidente afastado e crise agravada
O que se seguiu foi uma sucessão de decisões que culminaram com o
afastamento do vereador Antônio de Lunga do cargo de presidente da Câmara.
Nesse período, a Câmara aprovou a Lei da Preguiça, com 90 dias de recesso, que
mais tarde seria substituída; aprovou doação de terreno, onde a empresa
“A&C Centro de Contatos Ltda” não se instalou; e aprovou o “Plano de Cargos,
Carreira e Salários (PCCR)” que reduziu salários e direitos dos professores.
As decisões da Câmara e da gestão municipal tomavam grandes proporções e
passaram a chamar a atenção da mídia estadual e nacional. Juazeiro do Norte,
virou notícia em todos os grandes veículos, onde eram mostrados professores
chorando, vereadores correndo e a Câmara sitiada.
No mesmo dia 10 de setembro, dia da invasão, uma decisão da juíza Ana
Raquel dos Santos Linard, afastou o presidente Antônio de Lunga e o tesoureiro,
vereador Ronnas Motos (PMDB). Eles foram acusados de formação de quadrilha na compra
exorbitante de material de expediente, limpeza e alimentos, através de notas
frias de empresas fantasmas.
A denúncia do vereador Danty Benedito (PMN) foi a “gota d’água”, o “tiro
de misericórdia” numa Câmara já cambaleante. Entraram na investigação a Polícia
Civil, Ministério Público do Estado (MP-CE) e Tribunal de Contas dos Municípios
(TCM). Mais tarde, misteriosamente, os quatro delegados da Policia Civil,
responsáveis pela operação “A Faxina” que começou a investigar o caso das
vassouras, foram afastados.
A Câmara termina o ano de 2013 com o saldo de sete CPIs abertas, sendo
seis arquivadas e uma em andamento; uma Comissão processante que pediu a
cassação do presidente afastado, Antônio de Lunga, e teve relatório rejeitado
pela Casa; oito investigações em curso (Polícia Civil, MP-CE, TCM e Câmara) e
uma finalização do período legislativo com as renúncias de quatro dos seis
membros da mesa diretora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário