quarta-feira, 3 de maio de 2017


Opinião. Liberdade de José Dirceu e Eike Batista traduz uma justiça omissa

Eike Batista e José Dirceu estão livres. Lembrei de um programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido logo após as denúncias do ex-deputado federal Roberto Jeferson, que detonou José Dirceu revelando o escândalo do Mensalão.

O ano era 2006 e o cenário do programa trazia, em seu formato, apenas um entrevistador, que serviu mais como mediador de um caloroso debate entre representantes do PT, PSDB, PFL e PPS.

Marcou-me a imagem do cenário montado sob a representação de um mar de lama cheios de pegadas. Mas na verdade aquele cenário, juntamente com o debate, foi a representação mais fiel da situação política brasileira percebida até os dias de hoje.

Desde 2005, quando se descobriu aquele mensalão, prevalece o debate das hienas sorridentes contra os cachorros magros, ambos querendo esconder os restos do filé gordo que acabaram de roubar. No meio da confusão a preguiça (bicho), sempre em cima do muro, ora atacando, ora defendendo, com ar de boa moça. “Seria cômico, se não fosse trágico”, esse ensaio de comédia pastelão que deteriora a vida dos brasileiros.

Uma única frase de um dos deputados petistas, em resposta a um senador baiano, disse tudo: “Vossa excelência quer negar que no seu partido TAMBÉM não existe caixa dois”. Traduzindo: O senhor quer negar que não estamos todos no mesmo barco. No final, percebemos que, na verdade, são todos iguais.

José Dirceu foi condenado há 10 anos de prisão pela articulação do mensalão, mas foi solto. E o resultado é que Dirceu voltou a atacar, se envolvendo em propinas da Petrobras. Pela Lava Jato, foi condenado novamente a 23 anos e acaba de ser solto novamente. Ou seja, o que esperar de Dirceu a não ser outro ataque contra o povo. É o velho caso da polícia que prende e a justiça solta.

É importante deixar claro que não estamos aqui para julgar. Não é o nosso papel. Mas, não podemos nos refutar ao direito de cobrar o que foi prometido. Os políticos deste país, nos devem isso: o mínimo de ética política e responsabilidade social.  E a justiça tem o dever de cobrar e punir quem se desviar dessa conduta. Mas, na prática isso é apenas sonho e prevalece a máxima do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Casos como o do Eike Batista, José Dirceu, Roberto Jeferson, Fernando Collor, dos anões do orçamento, da Georgina de Freitas, do juiz Nicolau; dos envolvidos nas operações Navalha na Carne, Fundos de Pensão da Previ, Banco Marka, Vampiros da Saúde, Zelotes e a monumental Java Jato, nos fazem perder a esperança na justiça brasileira.

Juntos esses exemplos de corrupção desviaram mais de R$ 100 bilhões de reais dos cofres públicos; no entanto, menos de 5% desse valor foi recuperado, menos de 40% dos envolvidos foram julgados e, pelo menos, 80% dos corruptos continuam soltos. Ou seja, no Brasil o crime compensa, porque a justiça é omissa e está a serviço dos poderosos.

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